O profissional de relações públicas

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Se tem algo essencial de presenciarmos durante a vida acadêmica é como os profissionais da área em que queremos seguir atuam. Seja através de entrevistas, estágios, eventos ou por simples admiração. Sabemos que, na prática, todo o contexto muda, e precisamos ver como as teorias que nos são expostas dia após dia funcionam de fato, por meio de implementação de ações estratégicas e de como são as reações a elas por parte dos públicos, se atingem o objetivo proposto.



Por conta disso, hoje estamos iniciando um tema que pretendemos fazer virar prática desse blog: a entrevista com o profissional. Para iniciar com o pé direito, trazemos uma profissional que está tendo um grande destaque na nossa cidade, Santa Cruz do Sul. Faz mais de um ano que ela atua como relações públicas de algumas empresas, prestando consultoria, fazendo reposicionamento de marca no mercado e trabalhando a comunicação, e há um mês abriu sua própria agência, a Adega de Ideias, juntamente com uma sócia também relações públicas. Roberta Souza e Silva é graduada em Relações Públicas pela UNISC (Universidade de Santa Cruz do Sul) e mestre em Gestão Estratégica das Relações Públicas pela Escola Superior de Comunicação Social - Instituto Politécnico de Lisboa – Dez/2009.




Procurei fazer perguntas simples, mas diretas, que obtivessem respostas amplas, para se ter bem a noção de como é o trabalho da Roberta. Por isso, iniciei pedindo que ela me dissesse como é a Roberta como relações públicas e com as relações públicas, ao que ela me disse:



Roberta: - É um desafio muito grande, pois o trabalho é muito de conciliar interesses. Tem que ter muita diplomacia sempre, pois o teu cliente quer uma coisa, e o cliente do teu cliente quer outra coisa. Como, por exemplo, o momento de pensar as estratégias, quando está na fase de planejar. Agora no início do ano, passamos por um planejamento 2010 com todas as empresas que trabalhamos. E o que a gente faz: sugerimos tais e tais estratégias, e vem o cliente e diz: - mas acho que minha empresa não precisa disso. Porém, com teu olho de ‘comunicador’, tu sabe que aquilo é o ideal para aquela empresa. Como eu sempre digo: - A empresa para o empresário é como um filho, e um filho nunca tem problema! Portanto, temos que sempre estar encontrando formas de falar a verdade. Por isso uma coisa que trabalhamos muito, que é em favor do RP, é com a pesquisa. Se tu quer dizer para o teu cliente que ele tem que mudar, e ele não consegue enxergar isso, podemos usar a pesquisa para mostrar para ele que o caminho é a mudança. Até porque, dificilmente o cliente, quando reclama, não reclama para o dono da empresa, ele simplesmente deixa de ir. E o que eu sinto como RP, por ter tido 8 anos de vida acadêmica, e agora mais de um ano como vida profissional, é um desgaste psicológico muito grande, porque, por exemplo, eu mando de 20 a 30 e-mails por dia, então fico sempre naquela expectativa: - o que será que eles acharam? Será que eles estão concordando com o que eu estou dizendo? Concordando com o que eu estou achando melhor para a empresa deles? Então eu tenho que sentar no meu escritório todos os dias e estar com o meu psicológico bem preparado. E como a gente trabalha muito com parceria – e é uma coisa que eu acho que funciona muito bem, dá muito resultado – tu tem que ter certeza de que o que tu está propondo para um vai ser bom para o outro também. Então... é uma coisa bem complicada. Mas é muito bom. É isso, é lidar com o ser humano. Hoje ele vai estar super feliz porque ele passou um final de semana ótimo, ou ele vai estar estressado porque é segunda-feira e ele já está se incomodando. Além de conhecer muito bem a empresa do teu cliente, tu tem que conhecer muito bem com quem tu está lidando, pra saber como tu vai fazer as abordagens.



Após essa conversa inicial, questionei à Roberta como, para ela, foi chegar ano passado, depois do mestrado, e seguir na área como profissional autônomo. Por que ela não foi correr atrás de nenhuma empresa?



Roberta: - Tudo começou quando eu vim em agosto de 2008, passar férias no Brasil, pois eu estava fazendo mestrado em Portugal. Meu irmão, que é programador de software, sugeriu que a gente passasse a trabalhar junto, porque comunicação e tecnologia da informação trabalham bem próximos. Ele me sugeriu que eu estudasse algum dos clientes, para ver se eu poderia propor alguma coisa de comunicação pra eles. Dei uma estudada junto com ele, mas então surgiu a Julia Camargo, que é minha amiga há anos, e que tem sua própria empresa (Julia Camargo Designer de Acessórios), que me procurou, pois achava que a condição para alavancar o negócio era ‘atacar’ com alguma estratégia de comunicação, de relações públicas. Eu nunca pensei em trabalhar com consultoria, na faculdade a única coisa que me chamava a atenção era responsabilidade social, e eu sempre quis ser professora, por isso fazer o mestrado logo depois da graduação. Então comecei a trabalhar com a Julia Camargo, e logo ela passou meu contato para a dona da loja Puchullu (loja de roupas), e agora estou há mais de um ano trabalhando com comunicação empresarial. Eu nunca divulguei meu trabalho. Até tenho um certo receio, porque quando tu divulga, tem que ter certeza que terá estrutura para atender a demanda. E ainda quero trazer profissionais de outras áreas, pois os clientes já estão pedindo. Faz falta um publicitário e em breve também um jornalista, além de um estagiário de RP. Quero trabalhar com a integração das áreas.



Até agora, teu trabalho foi todo no boca a boca. Como essas empresas que tu trabalha descobriram o teu trabalho?



Roberta: - Começou com a Julia Camargo, que me passou pra Puchullu, que por sua vez são donas de 3 empresas (Puchullu, Puchullu Profissional que trabalha com uniformes, e a Center Tecidos), e as 3 trabalham com a comunicação de forma diferente. Depois, eu tinha 3 amigas que prestavam serviço terceirizado para a Phillip Morris de terapia ocupacional, e conforme foram fazendo sucesso com o trabalho, elas quiseram oferecer esse serviço para outras grandes empresas da cidade (clínica de serviço de terapia ocupacional), e elas depois me indicaram para a Academia Alternativa.



Tu acha que se tu divulgasse teu trabalho, em algum veículo de comunicação aqui na cidade, despertaria o interesse das empresas, por conta própria, a procurarem a agência?



Roberta: - Acho que não. Por isso é que a gente prefere muito mais trabalhar primeiramente com relações públicas pra divulgar as empresas, do que propriamente a publicidade. Tu pega o nome Adega de Ideias, é um nome vazio para todo mundo. Mas se tu encher de significado aquele nome, a perspectiva muda, a pessoa vai pensar de forma diferente, porque tu vai dar significado para aquilo. A minha opinião como RP é que a publicidade não faz esquecer a marca quando ela já tá bem estruturada na cabeça das pessoas. A pessoa só passa a registrar o que significa Adega de Ideias, por exemplo, quando alguém comentar com ela o que é, saber de algum evento que organizamos, alguma participação nossa, mas se ela ver só o anúncio no jornal, vai passar 5 dias e ela vai continuar não sabendo o que significa mesmo a Adega de Ideias.



Nas matérias que já saíram no jornal, sobre os teus clientes, tu assinava em alguma parte da reportagem: “foi uma promoção da relações públicas”... ? Digo isso, para as pessoas verem, perceberem que aquela ação, aquele evento, foi promovido por uma relações públicas. Porque, aqui em Santa Cruz, mesmo tendo um curso de Relações Públicas, as pessoas ainda não sabem direito, não conhecem o que é RP. Saindo nas matérias, as pessoas podem mudar o conhecimento a respeito do que RP faz, ligar a profissão àquelas ações.



Roberta: - Às vezes eu assinei, outras vezes não. Mas no início tu não te dá conta disso. E eu nunca pensei que o interior tivesse com a mente preparada para a comunicação. Nunca pensei que o interior ia sentir que estava preparado, que ia pensar que o produto não é mais o que difere a empresa, que precisava diferenciar o serviço. Por isso até nunca tinha pensado em ter uma agência.



Gostaria que tu desse um exemplo de uma ação que tu sugeriu, bem específico de relações públicas, e que deu certo. Porque, nós que não estamos ainda em contato com a prática, temos só a noção da teoria, e sabemos que na prática a realidade é bem diferente.



Roberta: - Com certeza. Na faculdade a gente ouve “RP trabalha a imagem”. E tu pensa: como vou trabalhar a imagem? Não é uma coisa que tu toca, que tu escreve. Por isso que é difícil tu vender a comunicação, porque ela está dependente do entendimento que as pessoas vão ter. Tu está trabalhando baseada em fundamentações fortes, com o que tu conhece, conhecer teu público, tendo um foco de atuação. Mas às vezes tu acha que tua ação vai ser ótima, que as pessoas vão responder, mas no fim tu nunca sabe, né? Esse negócio da imagem, por exemplo, hoje eu consigo visualizar a construção de uma imagem de uma empresa depois de um período trabalhando a comunicação. Não vai ser com uma ação que aconteceu durante um mês, que no próximo mês “ó, tá aí tua imagem”. Isso eu vejo muito com a Puchullu, com todo o reposicionamento de marca (passaram de clientes C-D para clientes A-B), que foi feito, foi uma coisa que durou um ano no mínimo. A gente não deixava nenhum mês falhar sem fazer alguma coisa diferente na loja. E além de tudo, tu tem que ver quanto vai custar a tua ideia. Isso é o que é mais desafiador, porque a gente está aprendendo sozinha. Isso tudo que venho fazendo foi o que eu aprendi nos meus 8 anos de vida acadêmica, e que eu digeri as RP dessa forma. A maneira como eu trabalho hoje é a maneira como eu vejo as RP funcionando. Um exemplo de ação legal foi com a Center Tecidos, que foi bem a questão de estreitar relacionamento. Uma loja de tecidos existe porque alguém ainda costura. Por isso se pensou em fazer uma atividade junto às costureiras. Então elencamos as 20 costureiras que mais compravam na loja, para eu visitá-las, fazer uma pesquisa, entregar um presentinho, dizer que a Center Tecidos teria um canal de comunicação aberto. Colocamos um programa de pontos, que elas podiam indicar os clientes. Ainda depois tivemos um workshop que fizemos com elas, para discutir sobre as tendências da moda. Então, assim, qual foi a loja de tecidos que proporcionou um workshop pras costureiras que compram na sua loja pra falar sobre tendências? Então pra mim, a frase do RP é que o RP tem que gerar conversa, que é muito diferente de tu ler um anúncio. O RP tem que proporcionar experiência, coisa que a publicidade sozinha não faz. Até fizemos uma caixinha para entregar para cada uma, com produtos de costura e com cartões de visita delas, com o logo da loja atrás. Primeiro, ela vai falar, para os familiares no mínimo, que ela recebeu a visita da relações públicas da Center Tecidos. Depois, ela vai ficar com aquela caixinha e vai distribuir o cartão de visitas para as pessoas, e possivelmente ela vai relatar essa experiência para mais um monte de gente. Então, é o nome da tua empresa sendo falado e indicado por quem mais entende do assunto, quer propaganda melhor?



Isso mostra que vocês se preocuparam com o público de vocês. E isso não tem preço.



Roberta: - Todas aquelas ideias malucas que a gente tinha que ter na faculdade, no planejamento, criar ações para serem feitas... isso é o meu trabalho hoje. É viajar total. Claro que tem coisas que não são viáveis, são caras, mas a gente pensa em coisas que não sejam absurdas para o cliente. Até por que as ideias simples, mas criativas é que são as bacanas, então tu não precisa de muito dinheiro pra fazer a coisa funcionar.



Pelas ações delas, percebemos que elas não se preocupam em atingir o maior número de pessoas. Elas procuram atingir aquele determinado número de pessoas, e é isso que faz diferença, que faz a ação ser eficaz. Foi ótima a entrevista, com dicas valiosas e muito pontuais. Pessoalmente, acho maravilhoso esse passo que elas estão dando. Uma agência especificamente de trabalho de relações públicas. Isso vai ajudar a disseminar o conhecimento da área na nossa região. Temos ótimas agências de publicidade, de assessoria de imprensa, que possuem uma imagem consagrada em Santa Cruz do Sul, mas próprio de relações públicas, ainda não havia. Que elas continuem cheias de ideais, para cada vez mais propagarem o trabalho qualificado e competente que elas vêm executando. É de extrema necessidade que as empresas passem a enxergar a importância das relações públicas, tanto para ajudar elas próprias quanto para ajudar a nossa área.







“eu digo para as minhas clientes: vejam quais são as 10 clientes mais importantes e façam um contato pessoal, seja para um convite de lançamento, seja para dizer que chegou uma peça com a cara dela, ou seja para agradecer por uma presença, para parabenizar. O contato direto e o estreitamento desta relação é o que reverte definitivamente em venda”. – Roberta Souza e Silva, Relações Públicas.

Comments (3)

Olá
Eu li a sua entrevista e como sou docente da graduação de Terapia Ocupacional me interessei pelo trabalho de suas 3 amigas na área empresarialcom a Philip Morris.Voce poderia me enviar o contato delas( ou repassar o meu contato),estas experiencias inovadoras são interessantes para ilustrar as alternativas para o estudantes e recém graduados ocuparem nichos no mercado de trabalho.

Olá, Rita! Obrigada por ter visitado nosso blog. Sobre as 3 terapeutas, você pode entrar em contato pelo e-mail betasouzaesilva@hotmail.com , relações públicas delas. Ela poderá te repassar para as meninas. Abraço!

Parabéns, Juliana, pela ótima entrevista com a Roberta. É bom saber de alguém que se formou em Relações Públicas e, pincipalmente, pela UNISC-Santa Cruz, esteja desenvolvendo um trabalho autônomo/pofissional, dentro da sua área de formação, valorizando e prestigiando a cidade/Universidade onde se formou.

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