O profissional de relações públicas na área Política

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Segunda-feira passada, dia 31 de maio, recebemos na disciplina de RP Governamentais a palestra da Ilza do Canto, assessora de comunicação da bancada do PT na Câmara Municipal de Porto Alegre e da Coordenação de Programa de Governo do PT/RS (aqui há mais informações).

Aproveitando a oportunidade, fiz uma entrevista com ela para trazer a conhecimento de todos o que um RP realiza ao atuar na área política, tão pouco explorada ainda. A Ilza tem uma ótima experiência, então ninguém melhor para relatar para nós como é a área de RP no trabalho político.

Logo mais temos as eleições, e muito já se comenta da nova reforma eleitoral, que é o uso por parte dos candidatos de toda e qualquer ferramenta de relacionamento na web, além de ter caído a censura de coberturas jornalísticas de campanhas. A exemplo de Barack Obama, há uma aposta em blogs, twitters, páginas em orkut e facebook para transmitir informações e passar uma transparência aos eleitores e auxiliar na hora da escolha do voto. Como está tua percepção a respeito disso? Acha que já nessa eleição essa prática será forte e visível aqui no Brasil ou é algo que está um pouco tímido ainda, engatinhando aos poucos?

Ilza - Eu acho que vai ser forte. Mas vai ser a primeira eleição que vamos poder contar com essas ferramentas de web, redes sociais, a pleno. Essa vai ser a primeira eleição que vamos experimentar o uso irrestrito dessas ferramentas. Eu acho que vai ser uma grande experiência para todos. Será um ano de testes. Descobrir a melhor forma de explorar essa ferramenta, com uma relação direta com o eleitor. Tanto para quem produz, quanto para os candidatos, para os partidos, para os produtores da web, de redes sociais, para o pessoal que vai fazer o suporte técnico da utilização da ferramenta e também para o usuário de internet. Ela já está sendo utilizada na pré-campanha, e acho que depois vai “bombar”, vai ser uma ferramenta muito importante, embora ainda no Brasil, e no RS, não seja o meio de comunicação com maior acesso. Não diria que terá papel decisivo, como por exemplo, nos EUA, que a internet foi uma ferramenta decisiva em termos de diferencial de eleição. No Brasil, eu acho que ainda não será, mas vai trazer um conteúdo diferenciado e uma segmentação que é diferente de outros momentos de campanha. A gente vai poder trabalhar de forma bem mais segmentada, com conteúdos mais dirigidos para determinados segmentos de público. Então vai ser uma campanha de experiência, acho que vai ser muito importante e bem interessante.

Você trabalha assessorando políticos em candidaturas e trabalha a comunicação no ambiente político. Como você vê a diferença em ter um profissional assessorando a parte de comunicação nesse ambiente? Faz mesmo muita diferença, ou pessoas que desempenham papéis semelhantes ao seu, mas que não possuem a mesma formação, tem condições de realizar um trabalho de igual competência?

Ilza - Acho que faz diferença. O profissional formado em comunicação tem uma série de conteúdo e conhecimento que ajudam na assessoria. Desde o planejamento estratégico, até a análise de pesquisas. A avaliação e construção de cenários, o posicionamento das candidaturas, até o uso de ferramentas de comunicação propriamente ditas. As ferramentas mais adequadas para os tipos de situação, ou para determinado tipo de candidatura, com uma avaliação mais abrangente de comunicação. Seja para um candidato, para um partido, seja para uma assessoria de bancada ou para um político, acho que é importante esse conhecimento. A maior parte dos profissionais hoje contratados, os chamados “marketeiros políticos”, todos têm formação em comunicação, marketing ou publicidade. Acho que essa formação é o diferencial. Mas é importante ressaltar que essa formação deve ser bem abrangente, não tão focada em uma área específica. Quem gerencia a comunicação na área política deve ser uma pessoa com conhecimentos nas várias áreas da comunicação. Que vão desde o planejamento estratégico até a produção do material impresso, para dessa forma poder decidir e fazer as melhores escolhas, de acordo com a análise de cenário que se tem.

Seguindo na linha da última pergunta, o que você ressalta que possa ser destacado sobre o trabalho de relações públicas no ambiente político?

Ilza - O conhecimento e a formação do profissional de RP possui um perfil mais abrangente e a possibilidade de gerenciar o composto da comunicação de uma forma mais eficiente. Acho que ele é um profissional bem importante, embora não seja tão reconhecido ou tenha tanta atuação nessa área política, mas acho que ele é um profissional bem preparado e que tem conhecimento em várias áreas que podem ajudar muito nesse tipo de assessoria e nesse tipo de trabalho. Acho que ele agrega muito, mas é necessário investir mais na área e incentivar que os profissionais busquem mais essa atividade, porque na prática os RPs acabam buscando outras áreas que não a área política. Acabam atuando mais em comunicação organizacional, ou as relações humanas, ou eventos, comunicação interna, ou seja, acabam atuando em outras áreas que não a assessoria política. Os profissionais, especialmente, os jornalistas e publicitários acabam ocupando mais esse espaço, que poderia também ser ocupado por um profissional de RP.

Isso até vai de uma questão dos próprios órgãos ou políticos né? Por que, o que eles querem mesmo? Aparecer na mídia e fazer propaganda! Então procuram direto publicitários e jornalistas.

Ilza - Porque normalmente na área política é isso que se resume. A ideia do político é a relação com a mídia. A preocupação é “como que eu posso me relacionar com os meios de comunicação e me colocar na mídia”. É principalmente isso que eles querem então a assessoria de imprensa vem em primeiro lugar. Depois vem a publicidade, e por último, as relações públicas, se é que eles conhecem. Em geral não conhecem o potencial que o profissional de RP poderia apresentar em termos de planejamento, de ação de comunicação de forma mais abrangente que não só a criação de espaços na imprensa.

Você conhece ou sabe de outro profissional de Relações Públicas que exerce o marketing político aqui no estado?

Ilza - Existem outros profissionais de relações públicas, que trabalham mais na área governamental, não tanto na assessoria política. Eu conheço profissionais que já atuaram em administrações, em gestões, mas na área governamental mesmo. Em Prefeituras, no próprio Governo do Estado, há muitos profissionais que atuam nessa área. São muito poucos os RP's de formação que estão nessa área. Conheço mais professores que trabalham a comunicação e política, como a Maria Helena Weber da Ufrgs, que trabalha a comunicação e política, mas na área acadêmica.

Ilza, para finalizar, por parte dos alunos, há um baixo interesse na área política na graduação. Porém, como qualquer outra área organizacional, a área política é muito importante para a sociedade. O que você diria para alunos de relações públicas que gostariam de seguir carreira nessa área? O que e onde buscar? Que formação extra é necessário?

Ilza - Em primeiro lugar, eu acho que o profissional que vai atuar na área política tem que ter “gosto pela coisa”, tem que ter interesse pela política e a forma como a política acontece. Na minha formação, por exemplo, desde a graduação, eu participei do Diretório Acadêmico, eu 'militei', politicamente peguei gosto pela área. E, digo sempre, que não é a gente que escolhe a política, é ela que nos escolhe. Eu não decido de uma hora para outra que a partir de agora vou ser assessor político. A escolha se dá pelas relações, pelo tipo de trabalho que se tem ao longo da carreira profissional. A minha atuação, por exemplo, assessoria política mesmo aconteceu de uns anos pra cá. Antes minha experiência foi mais governamental. Claro, assessorando projetos políticos mas no âmbito governamental. Acho que o profissional que trabalha nessa área tem que ter uma formação bastante abrangente. Acho que é importante ter um conhecimento de planejamento estratégico, da construção de imagem, de marketing político e marketing eleitoral. Eu acho que todos esses aspectos auxiliam na hora de pensar e planejar uma campanha, de buscar as estratégias mais adequadas e a formação é uma questão muito importante. Conhecer e dominar a ação da comunicação integrada acho que também é necessário para quem atua na área política. A gente tem que enxergar a comunicação não só como RP, Jornalismo, Publicidade. Tem que enxergar a comunicação com uma visão totalizante. Ora a ênfase maior é para uma área, ora é para outra, mas a gente tem que conseguir enxergar a comunicação como um todo. E isso eu acredito que é uma questão de experiência prática, de vivência, de visão e de exercício mesmo. Claro que estudar essa área é importante, ajuda na formação intelectual. Nas universidades existem disciplinas, cursos, especializações nessa área, que são interessantes e são formas de aprofundar o conhecimento. Uma questão importante também é o reconhecimento, a confiança e a credibilidade, seja do partido, seja do candidato ou do político. A gente precisa conquistar essa confiança, esse espaço. E isso vem com o tempo e com o trabalho. É uma conquista de fato, como em qualquer outra área. A identificação, o reconhecimento, o aprofundamento das relações, isso vem com o tempo, com a experiência. É importante também conhecer a história, a trajetória da política, como ela é operada no Brasil, no Estado e na cidade onde a gente atua. Na Câmara tem sido uma experiência muito gratificante para mim, embora eu goste muito mais de trabalhar no Executivo, onde tem uma operacionalidade maior do que a gente planeja em relação ao Legislativo. Mas essa experiência é muito importante, porque a gente experimenta como é estar do outro lado. Ali a gente exercita a democracia na sua plenitude. Ali nós temos todos os partidos, representando todas as posições e visões em um mesmo plenário, debatendo e discutindo sobre o mesmo tema, expondo suas idéias. Acho importante a gente experimentar, estar de vários lados, observando a mesma questão para poder ter uma noção de conjunto e construir a nossa própria visão de mundo e de sociedade.




"É uma conquista diária, até hoje eu tenho que penar para explicar, qual é a minha profissão. Enquanto o jornalista e o publicitário em uma palavra definem a sua atuação, nós RPs precisamos de uma frase, e olha lá! E mesmo assim, muitas vezes as pessoas não entendem. Nossa área é mais subjetiva e complexa do que as outras áreas da comunicação".

Comments (2)

Olá,
gostei bastante desta entrevista. Ela é, realmente, muito enriquecedora para o Relações públicas no campo político!

Abraços,

Maíra (http://rpitacos.blogspot.com)

Com certeza, é muito bom conhecer e saber sobre as experiências de quem trabalha em uma área ainda pouco explorada, mas tão importante quanto outras áreas. Realmente, é um trabalho muito interessante!

Obrigada pela sua opinião!
Abraço!

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