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Semana passada, a turma de Prática de Relações Públicas I recebeu a palestra da Simone Luz Ferreira, Relações Públicas e responsável pela produção executiva da FUNDACINE.
Simone é formada em Relações Públicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e também se graduou em Produção Audiovisual – Cinema e Vídeo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - Faculdade de Comunicação Social - FAMECOS – TECCINE. Desde março desse ano é Coordenadora Geral de Projetos da Fundacine. Suas principais atividades são: desenvolvimento, gerenciamento e coordenação de projetos culturais; organização e realização de eventos da entidade.
Aproveite a disponibilidade da Simone, e fiz uma entrevista com ela, que pode ser conferida abaixo:
Simone, tu te formaste primeiramente em Produção Audiovisual . Por que resolveu fazer Relações Públicas também?
Eu fiz as duas faculdades paralelas, ao mesmo tempo. Então, à medida em que eu fui trabalhando com a produção de cinema, dentro da faculdade de cinema, eu me apaixonei pela área de produção. E, ao mesmo tempo, eu cursava Relações Públicas, quando aprendi sobre os processos organizacionais e percebi que os espaços de atuação de um RP poderiam ser expandidos para a área cultural. Mas ainda era uma coisa bem incipiente, no início da faculdade se falava pouco em gestão cultural, ainda era um termo que as pessoas não conheciam direito. E como eu já gostava de trabalhar na área de produção de cinema, por experiência na faculdade (e eu também vim das artes, fazia teatro, dança), de certa forma também sempre gostei da área cultural. Eu enxergava que todas as possibilidades de Relações Públicas poderiam ser aplicadas nessa área com bastante êxito e ainda como um mercado promissor para RP. Ao longo da faculdade, fui tentando me direcionar para isso, buscando literatura...ainda é uma área que tem pouca pesquisa, pouco livro publicado, que tem poucos profissionais que atuam e que podem compartilhar as experiências. Por isso eu vejo como uma grande oportunidade, para que a gente possa se destacar e fazer com que essa área cultural consiga se formatar de uma maneira diferente, e não tão informal, não pela via artística somente, mas sim se tornar um negócio mesmo, virar algo realmente formatado do jeito que um RP gostaria que fosse.
Durante a faculdade, o que tu procuravas fazer para adquirir experiência prática...estágios, projetos?
Eu trabalhava com produção de cinema, e dentro de produção, a gente trabalha essencialmente com projetos. A minha tarefa nos filmes da universidade, que eram tarefas de aula, era escrever o projeto do filme, buscar uma fonte de recursos para financiar esse filme, tinha que dar um jeito de divulgar e, para isso, eu precisava transitar muito bem com a equipe do filme, dialogar muito bem com o diretor, ter uma certa postura de liderança frente aos outros técnicos que trabalhavam comigo, embora fossem colegas de aula... então todas essas tarefas de uma certa forma já sinalizavam uma certa habilidade pra atuar como RP. Também trabalhei com pesquisa na faculdade, não me foquei na área de Relações Públicas de uma forma mais conceitual, eu acabei me focando na recepção de mídia, estudando o relacionamento das mídias com seus públicos, que de uma certa forma é também um nicho de RP, se tu pensares em RP como profissão. Trabalhava com projetos dos filmes, na área de produção. Nunca estagiei exatamente como RP. Também trabalhei, dentro da universidade, na área de extensão fazendo eventos, fechando com clientes e fazendo a produção do evento, assessoria de imprensa, o que transitava nas funções de RP. Mas sempre enxerguei essa questão de trabalhar com produção de cinema, e essencialmente produção cultural, já como sendo essencialmente Relações Públicas. Então tudo isso se apresenta como um nicho de RP, tudo o que se faz na produção é o que um RP faz.
...e deve haver muitas pessoas né, que trabalham nessa área cultural, nas produções culturais, que fazem o que um RP faria, e nem sabem disso...
É, e o que nos dá uma grande vantagem, pra quem tem formação na área, é que as pessoas que trabalham com produção, seja de cinema ou produção em si artística, não conhecem exatamente os processos, não sabem a metodologia, então elas fazem, mas de uma maneira muito pouco formal, sem uma certa padronização. Essa é uma queixa muito grande do mercado cultural: que as pessoas não sabem formatar um bom projeto, não sabem apresentar o produto. Então temos uma grande vantagem, porque a gente já sai pronto da universidade. Já temos a mentalidade processual, enxergamos lá na frente, pensamos de forma estratégica, então aí é o grande nicho que temos a explorar...até porque muitas vezes o RP nem se interessa por essa área, não sabe que pode atuar.
O que tu aplicas de RP no trabalho que tu estás atuando hoje?
Essencialmente, tudo. Se a gente pensar pelas funções, pelas possibilidades. A gente concebe a ideia de um projeto novo, eu formato esse projeto e transcrevo na forma de um documento, e a partir disso a gente vai tentar financiar, conseguir recursos, viabilizar via lei de incentivo. Uma vez que temos esse recurso, eu executo. Se é um evento, eu essencialmente faço o evento, ou se é um projeto. Depois de executado, eu avalio, implemento ferramentas de avaliação, se o que eu fiz o público gostou, se foi da melhor forma, aí depois levo isso para a direção da FUNDACINE, para que nos próximos projetos a gente possa adequar e melhorar. Lá na FUNDACINE, como é uma entidade sem fins lucrativos, trabalhamos com uma equipe pequena, então eu faço tudo, desde a concepção da ideia à conclusão do projeto, a prestação de contas dele. Tenho que planejar, executar, avaliar e concluir. A única coisa que não faço é assessoria de imprensa, pois temos uma empresa contratada. O trabalho de relacionamento com os públicos, com e-mail, newsletter, site, tudo isso é com a gente. O bom de trabalhar em equipe pequena é que tu tens a visão do todo, pode aplicar e efetivamente aprender, coisas que tu vias na faculdade somente na forma teórica, agora pode aplicar na prática.
Contigo, há mais alguém de RP ou da comunicação?
São duas pessoas. Eu e uma assistente, que faz faculdade de Gestão Cultural. Mas em breve ela vai sair, e estamos recrutando outro estagiário. Pra mim, vai ser melhor se for alguém de RP, pra ser melhor de trabalhar, já é meio caminho andado. Alguém que pense como eu. E que tenha o mínimo de noção de elaboração de projetos.
Como um RP pode atuar estrategicamente em gestão cultural?
Quando tu falas em projeto cultural, tu tens que tornar algo (claro, num planejamento estratégico também acontece isso), mas um projeto cultural não é algo palpável, é algo totalmente subjetivo, os resultados daquilo não são mensuráveis a curto prazo. Então tu tens que conseguir conquistar uma empresa. Tens que mudar a mentalidade de uma empresa, pra que ela invista no teu projeto, que veja que aquilo é lucrativo e estratégico pra ela, é muito mais difícil do que com qualquer outro produto. Tu tens que dizer que aquilo é bom pra sociedade, que é bom pra ela pela questão da responsabilidade cultural, social, naquela comunidade em que ela está inserida, que aquele projeto pode trazer um certo lucro. Só que tu tornar isso mensurável e visível pra eles é algo bem trabalhoso, porque se trata de cultura, que não é algo tão valorizado no Brasil. É muito mais uma questão de imagem institucional do que lucratividade. Hoje temos uma pessoa que é a captadora de recursos, que visita essencialmente empresas. De 100 empresas que ela visita, 5 acabam tendo interesse, e 1 fecha negócio. Então é muito difícil, a visão do mercado ainda é muito de lucratividade. Também viabilizamos projetos via incentivo fiscal e benefício das leis de incentivo. Mas claro, se tu já é RP dentro de uma empresa e te dão a tarefa de fazer o desenvolvimento cultural dentro daquela empresa, de responsabilidade sócio-cultural, é claro que tu vais ter recurso, equipe, vai ter um certo suporte que vai facilitar essa atuação. Uma vez que se trabalha no Terceiro Setor, dificulta um pouco, com pouco recurso, equipes menores, não tem tanta credibilidade. Mas ao mesmo tempo é muito gratificante, por que quando tu conquistas, tem um valor bem diferente.
Aqui, temos uma visão da área somente como cidade do interior. E, por isso, muitas vezes, não conseguimos ter a noção de como está o mercado em grandes cidades, capitais. Como tu enxergas o mercado de Relações Públicas em Porto Alegre?
Eu acho que houve um aumento do espaço pro RP atuar. Mais em POA ainda é muito incipiente, para um RP atuar em um cargo como Relações Públicas, receber o quanto ele merece. Hoje, tu ganha espaço para atuar como Relações Públicas em empresas, muitas vezes até coordenando um setor de comunicação, mas na tua carteira não é assinada como RP. Então, muitas pessoas trabalham como RP, conseguem crescer, mas não formalmente. Pelo que conheço, o eixo Rio-São Paulo é um pouco mais desenvolvido. Lá inclusive já tem empresas com Setor de Relações Públicas, que contratam somente pessoas formadas na área, o que é uma outra lógica. E, geralmente, são multinacionais. Aqui se começa aos poucos: vai ganhando espaço, implementa algumas ferramentas de comunicação, começa a trabalhar com relacionamento com a imprensa, organiza eventos, aí a empresa começa a notar que esse tipo de postura traz uma mudança positiva. Mas assim, pelo que eu percebo, hoje em dia há muito mais vagas de estágios para os estudantes de RP do que na época em que eu comecei. Hoje, tu entras na faculdade e no 1º semestre tu tens estágio. Tem mais empresas abrindo vagas para RP. O perfil que eu percebo das vagas é que chamam um jornalista para assessoria de imprensa, um publicitário para a área de criação, e um RP vai competir com a área da administração. Geralmente nos requisitos das vagas chamam estudantes de RP ou de administração. Então é uma mudança por parte das empresas que eu acho importante, tu ser descolado da área da comunicação e integrar mais a área estratégica, administrativa e gerencial.
Como estamos nos aproximando do dia 2 de dezembro, uma data importante para nossa área, e aproveitando o ambiente acadêmico, gostaria que tu desse um recado para os alunos, para os futuros profissionais de RP, ressaltando a importância da área.
Primeiramente, conquiste o seu espaço. Não esperem que surja exatamente a vaga e que exista exatamente o reconhecimento que a gente aguarda... criem oportunidades! Enxerguem as dificuldades e obstáculos que tenham no mercado como uma grande oportunidade, como um caminho a seguir e empreender ideias. Conheço muitos RPs que se conformam que a profissão não é reconhecida, que não existe a vaga ideal, e acabam trabalhando em qualquer outra coisa e dizem – “me formei em vão”. Acho que grande parte das nossas dificuldades é por causa desse tipo de mentalidade. Devem consolidar o espaço no mercado e fazer as empresas enxergarem que esse é o caminho, que esse é o grande diferencial que elas vão ter. Então parte daqui, da universidade, das pessoas que estão se formando, essa mudança de cultura e de mentalidade. Se não teve o espaço, crie! Ainda é uma profissão difusa, que as pessoas não conhecem direito, então cabe a nós mostrar quem somos, mostrar a que viemos, o quanto a gente pode render para uma organização, e fazer com que a profissão se torne essencialmente eficaz, reconhecida, e que deem o mérito que ela mereça. Não se acomodem, não vai ser fácil. Vai da postura de cada um mudar essa realidade.
"Conquiste o seu espaço. Criem oportunidades! RP ainda é uma profissão difusa, que as pessoas não conhecem direito, então cabe a nós mostrar quem somos, mostrar a que viemos, o quanto a gente pode render para uma organização, e fazer com que a profissão se torne essencialmente eficaz, reconhecida, e que deem o mérito que ela mereça. Não se acomodem, não vai ser fácil. Vai da postura de cada um mudar essa realidade." - Simone Luz Ferreira, Relações Públicas
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